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quarta-feira, 14 de maio de 2014

O que é a bíblia? Parte 10. O Poder de um Poema (por Rob Bell)



Série de reflexões sobre a Bíblia, escrita e publicada originalmente em inglês, no tumblr, pelo próprio autor Rob Bell e sua equipe. (http://robbellcom.tumblr.com/post/66107373947/what-is-the-bible).
Transcrito e adaptado para portugues por Marcus Vinicius Epprecht com autorização do autor. Proibida a reprodução para fins comerciais ou qualquer forma de ganho sobre este texto sem a autorização expressa do autor e do tradutor.
Revisado por Felipe Epprecht Douverny e Fernanda Votta Epprecht.
Publicado em português simultaneamente nos seguintes endereços:





Parte 10. O Poder de um Poema



Então, nós cobrimos algumas histórias das escrituras, olhando para o seu contexto e o mundo no tempo em que elas foram contadas, olhando para o desdobramento da história logo abaixo da superfície. Em seguida, vamos explorar a natureza do que está se desenrolando e como ela reflete a evolução da consciência humana, então a autoridade, a inspiração e a expressão: palavra de Deus. Mas antes disso, uma outra questão ...

avguy1981 perguntou: (pergunta enviada por usuário do tumblr)

Você muitas vezes refere-se à história da criação como um " poema ". Você pode expandir este ponto?

Claro. A Bíblia começa com um poema. É um belo e lírico poema, com um refrão e um ritmo (porque, claro, Deus tem um fantástico senso de ritmo) e é construído num crescendo forte, curiosamente, com os seres humanos (!). É importante lembrar-se sempre, que quando você está lendo a Bíblia você está lendo literatura. Forma, gênero e estilo são muito, muito cruciais para entender o que é que você está lendo. Por exemplo, há uma coleção de poemas nas escrituras hebraicas chamada de Cântico dos Cânticos. O Cântico dos Cânticos são naturalmente quiásticos (* Nota de tradução: Vem de quiasmo, figura de linguagem em que os elementos são dispostos de forma cruzada. Deriva da letra grega X (chi)), o que significa que alguns refrãos (como em uma canção) vão se repetir por toda parte. Se você tentar ensinar ou pregar através destes poemas, versículo por versículo, você vai acabar se repetindo mais e mais, porque você vai continuar caindo nos refrãos que você já encontrou. Se você está procurando um argumento lógico, linear, você não vai encontrar nenhum. Se você estiver procurando por vislumbres, temas, imagens, cenas que são vagamente conectadas, mas juntos pintam um quadro particular de amor, você vai encontrar um monte deles para falar a respeito …

Então, por que Gênesis começa com um poema? Porque algumas verdades só podem ser capturadas em poesia.

Ninguém estava lá no início do mundo.
Ninguém viu o Big Bang.
Ninguém tirou fotos.

Então como você - sem a ciência e todos os dados e análise e hipóteses que vêm com ela - escreveria sobre algo que está além das palavras e que ninguém testemunhou?

Você escreve um poema.

E se você está tentando contar a história do Êxodo, o que significa que você precisa dizer algo a respeito de Abraão ser o pai de um novo tipo de povo, então você vai precisar contar sobre o colapso da sociedade humana,
que levou à necessidade de um novo tipo de povo, o que significa que você vai precisar começar a história do início. Mas você não estava lá, então como você explica isso? Com um belo de um poema que subversivamente derruba as narrativas dominantes de seu tempo com uma nova visão do divino, enraizada não na destruição e carnificina, mas no amor e na criatividade e alegria.

Por que isso é importante? Porque há certas perspectivas sobre este poema que querem tratá-lo como um livro de ciência. Essas perspectivas estão seriamente equivocadas, muitas vezes, insistindo que os sete dias no poema são literais sete dias de 24 horas como os entendemos hoje. O que isso faz é roubar do poema seu poder e eloqüência. É por isso que muitas pessoas que foram ensinadas a ler passagens como esta, palavra por palavra, literalmente, acabam desconectadas pela própria Bíblia. Quando você força as escrituras em categorias que as próprias escrituras não empregam você tira delas sua própria vida. E no processo de criar argumentos absurdamente embaraçosos, como dias de 24 horas revelando uma pletora* (Ei Pepe, você diria que tem uma pletora?) de inconsistências no processo (tais como: medimos um dia de 24 horas pela rotação da terra que não tinha sido criada até havia pouco, sendo que o sol e a lua são criados no poema apenas no quarto dia....).

Falando do sol, o sol (o deus sol) era adorado em culturas mesopotâmicas, porque é tão claramente uma fonte de energia para a vida humana. Assim, quando este poema menciona o sol sendo criado, isso é um comentário brilhantemente subversivo. A primeira audiência, que estava familiarizada com o deus sol, teria dito: Espera aí! O quê? O deus neste poema fez o sol? Ah vá?

Lembre-se também, os mitos da criação que eram populares nesse momento ( Epopéia de Gilgamesh, etc ), todos tinham uma narrativa bastante semelhante: os deuses estavam em guerra e a partir de sua carnificina e destruição em suas batalhas, a vida como a conhecemos surgia. E então este poema entra em cena e insiste que não estamos aqui por causa de destruição e carnificina, estamos aqui por causa da criatividade geradora divina que energiza e quer o mundo num excesso de amor e alegria.

Isso teria sido uma idéia nova e radical, para dizer o mínimo.
Este poema levantou uma questão provocativa: Estamos aqui por causa da violência entre os deuses ou alegria divina e criatividade? Qual é o motor por trás de tudo? (Essa ainda é a questão, não é?)

Uma história rápida: Um amigo meu estava em Jerusalém falando com um dos maiores rabinos do mundo. Meu amigo é um cristão e disse ao rabino que a sua denominação estava tendo um debate sobre se o primeiro capítulo da Bíblia deveria ser tomado literalmente como seis dias de 24 horas. O rabino escutou - um homem que teria Gênesis, junto com o resto das escrituras hebraicas memorizados, é claro - e, em seguida, ele fez uma pausa antes de dizer: Eu nunca pensei sobre isso.





*nota de tradução: Pletora significa superabundância, exuberância, plenitude. O sentido é de infinidade de criações num único dia.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

O que é a bíblia? Parte 9. Adão e Eva (por Rob Bell)


Série de reflexões sobre a Bíblia, escrita e publicada originalmente em inglês, no tumblr, pelo próprio autor Rob Bell e sua equipe. (http://robbellcom.tumblr.com/post/66107373947/what-is-the-bible).
Transcrito e adaptado para portugues por Marcus Vinicius Epprecht com autorização do autor. Proibida a reprodução para fins comerciais ou qualquer forma de ganho sobre este texto sem a autorização expressa do autor e do tradutor.
Revisado por Felipe Epprecht Douverny e Fernanda Votta Epprecht.
Publicado em português simultaneamente nos seguintes endereços:



Parte 9. Adão e Eva



From tumblr-
jwhittenii perguntou: (Pergunta enviada por internauta no tumblr)
Que tal uma seção sobre O que é a Bíblia - com Adão e Eva – história ou ficção?

Tudo bem, então, Adão e Eva.

Você acha que eles eram pessoas reais?
Eu não acho que esse é o ponto da história.

Eles poderiam ter sido?
Claro. Mas, então, você tem que responder a todos os tipos de perguntas sobre DNA, e fósseis, e evidências sobre a idade da Terra …

Alguém realmente sabe com certeza se eram ou não pessoas reais?
Não.

Então, debater se eram ou não pessoas reais não é o ponto.
Exatamente. É realmente perigoso, porque ao argumentar de um jeito ou de outro você pode perder o ponto da história.

Mas com a resposta de que você não acha que esse é o ponto da história, parece que você está evitando a questão.
Absolutamente não.

Mas sua resposta está claramente levando a Bíblia menos a sério do que se você simplesmente disser que você acredita que eles eram pessoas reais, porque a Bíblia diz que eles eram pessoas reais.
Absolutamente não. Eu dou essa resposta, porque essa é a resposta que leva a história mais a sério.

Mas algumas pessoas dizem que se você não acreditar que Adão e Eva eram pessoas reais, então você também está negando a verdade do resto da Bíblia.
Isso é loucura. E também desmerece as escrituras.

Ok, então, por que você não acha que o fato deles serem ou não pessoas reais é o ponto da história?
Porque os contadores de histórias têm claramente algo muito maior em mente …

Então, primeiro, o sentido maior.
Em seguida, alguns detalhes da história de Adão e Eva.
Em terceiro lugar, algumas conclusões, que estarão, é claro, apenas começando a discussão.

Primeiro, a história de Adão e Eva é encontrada nos primeiros capítulos do livro do Gênesis,
que é o primeiro livro da Torá. A Torá (em hebraico Torah significa caminho, ensino ou instrução) não tinha a forma com a qual estamos familiarizados (Gênesis , Êxodo, Levítico , Números, Deuteronômio ), até ser editada e montada durante o exílio na Babilônia. (É por isso que Deuteronômio, muitas vezes referido como um dos livros de Moisés, conta como Moisés ... morreu).

Durante o exílio, esses escritores e editores não estavam em Jerusalém, a sua casa e o centro de sua fé, mas a quilômetros de distância, em uma terra estrangeira cheia de pessoas estranhas, com costumes estranhos e que adoravam uma série de outros deuses.

E que história eles coletam e editam durante esse tempo?
Uma história sobre um tempo na vida do seu povo, quando os seus antepassados encontravam-se a quilômetros de casa, em uma terra estranha e precisavam ser libertos da escravidão (isso é o livro do Êxodo, resumidamente). Lembre-se, estas são pessoas judias sérias falando sobre sua cultura, sua ascendência, sua fé e seu Deus. Sua religião estava profundamente ligada à terra, ao monte em Jerusalém,
onde eles adoravam o seu Deus, no templo de Deus, até que esse templo foi destruído e eles foram levados para uma terra estrangeira.

Você pode ver como a história do Êxodo, com Deus livrando seus antepassados da opressão teria soado como música para essas pessoas no exílio? Você pode ver como isso lhes teria dado esperança? Você pode ver como eles se apegaram à ideia de que seu Deus liberta as pessoas, e talvez o seu Deus fosse libertá-los agora? Você pode ver por que eles teriam feito grandes esforços para garantir que esta história fosse editada, guardada e contada?

Por causa desta história, Êxodo tem sido muitas vezes chamado de o livro central das escrituras hebraicas,
o livro mais importante, e até mesmo o primeiro livro, porque ele gira em torno de um evento – um evento que as pessoas que compilaram a Torá esperavam apaixonadamente que acontecesse de novo. (O profeta Isaías chegou a falar em um êxodo futuro, em que toda a criação seria liberta ... )

E se você começa a história com as pessoas em escravidão no Egito, qualquer um que prestasse atenção teria naturalmente uma pergunta: Como é que eles acabaram sendo escravos no Egito?
Bem, eles acabaram lá por causa de um homem chamado José …

E quem era José?
O filho de Jacó …

E quem era Jacó?
O filho de Isaque …

E quem era Isaque?
O filho de Abraão …

E por que Abraão é um personagem importante na história?
Porque ele é aquele a quem Deus prometeu abençoar, e então fazer dele uma tribo, uma tribo que iria abençoar o mundo ... mas isso acabou em escravidão no Egito. (Gostou de como eu li o livro de Gênesis em sentido inverso?)

E por que um novo tipo de tribo que abençoaria o mundo era algo importante?
Porque as coisas tinham ficado fora de controle. Desde os primórdios da memória humana, os irmãos estavam matando seus irmãos, civilizações inteiras eram consumidas com violência, a tecnologia primitiva e a construção de impérios enchiam as pessoas de tamanho orgulho e ego que elas literalmente pensavam que poderiam construir uma torre para alcançarem o céu e se tornarem deuses.

Aaah sim, como uma progressão. Ou uma doença que se espalha. A rebelião humana começou com apenas alguns, mas foi aumentando até que todo o projeto humano foi saindo dos trilhos.
Exatamente. Essencialmente os primeiros onze capítulos do Gênesis .

Assim, o livro de Gênesis, então, é como um prólogo, dando às pessoas a história de fundo sobre a escalada da violência e rebelião humanas e explicando por que Deus chamou Abraão para ser o pai de um novo tipo de povo, um povo que mostraria ao mundo um caminho melhor.

Bem dito.

Assim, há uma história maior que está se desenrolando em Gênesis, enquanto ele se encaminha para o Êxodo.
Sim, é uma história sobre nossas origens, sobre a propensão humana para estragar tudo, sobre a violência
e o poder e o pecado e todas as maneiras que escolhemos, desde nossas primeiras experiências conscientes como seres humanos, para perturbar a paz que Deus quer para o mundo.

Agora, um pouco sobre os detalhes.

O nome Adão significa terra ou pó .
O nome Eva significa respiração, ou a vida, ou vivente.

O Sr. Terra conheceu a Sra. Vivente.

Os nomes são tão amplos, eles parecem como se fossem intencionalmente - representantes - de toda a humanidade.
Sim, parece que eles são.

E então eles falam com uma cobra -
Na verdade, falar com cobras era um artifício literário comum naquela época.

No poema do capítulo um, são criados à imagem de Deus, na estória do capítulo dois um é criado antes do outro. Por que existem duas versões diferentes em dois estilos muito diferentes?
Existem vários autores trabalhando aqui, costurando diferentes perspectivas. Lembre-se, a maior parte das escrituras começou como história oral, contos narrados em torno de uma fogueira.

Paulo e Jesus, ambos falaram sobre Adão e Eva como se fossem reais.
Sim, Eles o fizeram. A menos que você veja o Sr. Terra e a Sra. Vivente como uma maneira de falar sobre a condição humana desde os primeiros momentos, quando as pessoas começaram a perceber que eram seres humanos e estavam em uma condição particularmente destrutiva.

Então ... ?
Esse é o poder de uma grande história, em suas particularidades (personagens, seus nomes, o que fazem, o que eles dizem) ela fala sobre coisas universais (coisas que todos nós desejamos, todos os atributos que queremos, verdades sobre a condição humana que todos nós compartilhamos.)

No mundo moderno estamos profundamente condicionados a ver a verdade literal como a forma mais elevada, mais confiável de verdade. E assim, muitas histórias somente são julgadas como verdade se literalmente aconteceram no espaço e no tempo real. Mas há uma verdade-mais-que-literal, como quando Jesus fala sobre o homem que tem dois filhos e um filho pede sua parte da herança. Essa história que ele conta sobre o pai perdoador e seus dois filhos é inegavelmente verdadeira. Ela tem movido, inspirado e convencido as pessoas durante dois mil anos. E ainda assim você nunca ouve debates sobre se o pai ou os filhos eram pessoas reais.

Mas está claro a partir do contexto que, nesse caso, Jesus estava contando uma parábola. Ela liberta as pessoas de tentar descobrir se isso realmente aconteceu.
Exatamente. Para dizer de outra forma: algumas histórias verdadeiras de fato aconteceram. Mas a grande verdade é que ela acontece hoje. Há um pouco de Adão e Eva em todos nós (Um bom comediante faria a festa com essa fala ... ).

Assim, nas histórias que não sabemos se são reais ou não, devemos ficar com as mesmas perguntas? Qual é o significado? O que há de universal aqui? O que essa história nos diz sobre quem somos e quem é Deus?
Bem dito. E esse é o problema de ter apenas as duas categorias de histórico ou ficcional para escolher. Essas categorias implicam que sua verdade está ligada a sua historicidade literal. Mas não precisa estar. Na verdade, elas devem ser libertadas. As categorias são muito limitantes ...

Mas e sobre a singularidade da história bíblica que insiste que Deus está ativamente envolvido na redenção da história humana real?
Sim! Eu pensei que você nunca perguntaria. É por isso que eu acho esse livro tão atraente, é por isso por que eu sigo Jesus, e por isso vamos precisar de mais algumas semanas de postagens.


sábado, 3 de maio de 2014

O que é a bíblia? Parte 8. “Apredejadores e Adúlteros” ou seria melhor “Hipócritas e Libertinos”? Ou talvez ainda “Baderneiros e Liberais”? ou quem sabe “Liberais e Promíscuos? (para um título original “Stoners and Swingers”)*


Série de reflexões sobre a Bíblia, escrita e publicada originalmente em inglês, no tumblr, pelo próprio autor Rob Bell e sua equipe. (http://robbellcom.tumblr.com/post/66107373947/what-is-the-bible).
Transcrito e adaptado para português por Marcus Vinicius Epprecht com autorização do autor. Proibida a reprodução para fins comerciais ou qualquer forma de ganho sobre este texto sem a autorização expressa do autor e do tradutor.
Revisado por Felipe Epprecht Douverny e Fernanda Votta Epprecht.
Publicado em português simultaneamente nos seguintes endereços:



Parte 8. “Apredejadores e Adúlteros” ou seria melhor “Hipócritas e Libertinos”? Ou talvez ainda “Baderneiros e Liberais”? ou quem sabe “Liberais e Promíscuos? (para um título original “Stoners and Swingers”)*


Nós temos olhado para uma série de histórias das escrituras hebraicas,
até agora,
histórias que eu queria que você visse sob uma nova luz.

Agora, vamos olhar para uma história dos evangelhos sobre Jesus e, depois disso,
vamos aos poucos começar a identificar o fio que liga todas elas.

Assim.

Apredejadores e Adúlteros ou seria melhor “Hipócritas e Libertinos” ou talvez ainda “Baderneiros e Liberais” (para um título original “Stoners and Swingers”) (Um bom título é meio caminho andado, não é? ) Uma mulher é pega no meio da transa, a polícia religiosa a traz, mas não o cara, para dentro da área do templo e eles fazem com que ela fique perante o grupo que está tentando fazer Jesus cair na armadilha, dizendo que ela deveria ser apedrejada, SEGUNDO A LEI (não tenho idéia de porque eu DEIXEI ISSO EM MAIÚSCULO). Jesus, no entanto, se abaixa e escreve no chão (Um exemplo clássico de o que é que Jesus está fazendo? Junto com esfregar lama nos olhos e sua primeira fala pós-ressurreição: Ei, vocês têm comida?). Ele então diz

qualquer um de vós que estiver sem pecado seja o primeiro a atirar uma pedra contra ela,

ele escreve um pouco mais no chão, os homens começam a sair até que ficam apenas Jesus e a mulher, ele pergunta a ela se alguém a condena, ela diz que não, ele diz a ela que ele também não, e que ela deve deixar sua vida de pecado.

Fim da história.

Então, o que ele estava escrevendo no chão?

Preparado? Porque isso vai levar algum tempo. Essa história sobre a mulher e a multidão que quer apedrejá-la encontra-se no início do Evangelho de João, capítulo 8 (mas não nos manuscritos mais antigos. Hummm). Se você volta até o capítulo anterior, o capítulo 7, você lerá que era a época da Festa dos Tabernáculos.

A Festa dos Tabernáculos era uma das sete principais festas do calendário hebraico. (Veja Levítico 23 para uma visão mais ou menos concisa). Havia festas de primavera e de outono, organizadas em torno dos ciclos agrícolas de plantio e colheita. (Festas eram comuns no mundo antigo em sociedades agrícolas, onde pessoas separavam determinados momentos para agradecer aos deuses e pedir a eles que a generosidade continuasse).
As Festas da Primavera eram:
Páscoa, depois,
Pães Ázimos, depois,
Primícias , depois,
Pentecostes.

As Festas de Outono eram
Trombetas, depois,
Expiação, depois
Tabernáculos.

Nota de tradução: os nomes das festas estão traduzidos literalmente. Conhecemos as mesmas como Pessach , Matzot, HaBikurin e Shavuot, como festas de primavera e Rosh Hashanah, Yom Kippur, Sucot como festas de outono.

A Festa dos Tabernáculos, era a última festa do ano, e a última das festas de outono. Como a última das festas de outono, era a festa antes do inverno, quando esperavam que as chuvas viessem regar as culturas e assim elas crescessem, para que na primavera houvesse uma colheita e algo para comemorar e dar graças nas festas de primavera. Milhares de peregrinos no primeiro século vinham a Jerusalém para os oito dias de festa, permanecendo em abrigos improvisados (tendas) (sukkots em hebraico) que representavam como o Deus deles cuidara de seu povo muitos anos antes, quando eles tinham peregrinado pelo deserto
(Essa história é contada no Livro do Êxodo). Durante os oito dias havia sacrifícios e cânticos e rituais especiais, orientados em torno de pedir a Deus para trazer as chuvas de inverno para que eles tivessem comida na primavera. Os líderes religiosos ensinavam durante estes oito dias sobre o significado da água: água em forma de chuva, a água e a sede, sede como uma metáfora para o anseio espiritual. Muitos ensinamentos sobre a água. Durante os oito dias todos ensinamentos eram elaborados visando o último dia,
quando o sumo sacerdote virava uma jarra de água e um jarro de vinho despejando-os juntos sobre o altar, enquanto a multidão gritava

Hosannah! Hosannah!

Hosannah significa: que Deus nos salve, ou Deus, por favor, traga-nos as chuvas de inverno para nos salvar da seca e da fome. (Mais tarde Hosannah começou a ter conotações políticas, como Deus, livrai-nos dos romanos que invadiram a nossa terra !)

Com isso em mente, observe esta linha do capítulo 7:

No último e maior dia do Festival, Jesus levantou-se e disse em alta voz:

Por que ele está falando em voz alta? Porque é o último dia e a multidão estava cantando em voz alta.
Ele quer ser ouvido acima do barulho da multidão reunida.
E o que ele disse em voz alta?

Se alguém tem sede, venha a mim e beba.

Boom! Ele escolhe este momento, um momento em que as pessoas estavam concentradas em suas necessidades reais e físicas de água, e chama atenção para a sua sede espiritual, sede, ele insiste, a respeito da qual ele pode fazer algo. (É por isso que, no início do capítulo, ele diz a seus irmãos para irem ao Festival e fica para trás, dizendo-lhes que ainda não era o tempo certo. Ele está esperando o último dia para fazer o seu discurso tendo como pano de fundo o ritual do sacerdote de derramar o vinho e a água e a multidão cantando sobre sua necessidade de um salvador? Brilhante. Simplesmente brilhante. A teatralidade por si só é fantástica).

Milhares de pessoas, festejando e bebendo e vivendo em abrigos improvisados na encosta da colina em Jerusalém. Basicamente, acampamento religioso. Com um monte de vinho envolvido.
E o que muitas vezes acontece quando muitas pessoas bebem e acampam juntas?

Você pode ver como duas pessoas podem acabar na tenda errada – arrependendo-se das decisões que tomaram na noite anterior? Não é surpreendente, então, que na manhã seguinte, os mestres da lei e os fariseus arrastem para os pátios do templo uma mulher que eles haviam capturado com um homem que não era seu marido...

Pela manhã, eles arrastam esta mulher até Jesus porque querem pegá-lo numa armadilha. Eles não acreditam nele, eles o rejeitam, eles querem expô-lo como uma fraude. E assim eles o desafiam com uma passagem da lei.

E então ele se abaixa e escreve no chão.
E o que ele escreve?

Bem, o que os fariseus e mestres da lei vinham fazendo nos últimos oito dias?
Eles estavam na festa.
E o que eles vinham fazendo na festa?
Eles estavam ensinando, certo?
E o que estavam ensinando?
Eles estavam ensinando sobre a água.
Que passagens teriam sido ensinadas?
Interessante você perguntar. Uma das passagens que era ensinada na Festa dos Tabernáculos é do profeta Jeremias. A passagem trata de poeira, que é o que você tem se você não tem água. Aqui estão algumas linhas:

SENHOR, tu és a esperança de Israel;
todos os que te abandonam serão envergonhados.
Aqueles que se afastam de Ti serão escritos no pó …

Então, o que Jesus faz?

Ele pega uma das passagens com a qual todos estavam familiarizados e vira essa passagem contra eles, tudo sem dizer uma palavra. Aqui está a água viva, no meio deles, convidando-os a confiar nele, mas eles não acreditam nele. Eles tentam fazê-lo cair em armadilhas. Eles ensinam a respeito de Deus e de água e de esperança e de vida nova, mas quando ela chega no meio deles através de uma pessoa, que eles não estavam esperando, eles não conseguem. Agarram-se ao que é familiar, rejeitando a água viva que está na frente deles.

O que Jesus escreveu no chão?
Seus nomes.



* Nota de tradução: As várias opções a respeito do título surgiram em função de uma forte discussão entre o tradutor e os revisores, pois o texto é bastante provocativo e uma tradução literal seria insuficiente. E não chegamos a um consenso, portanto você pode opinar e adotar o que você acha melhor condizente com o texto. Assim também podemos perceber que a “letra” em si, o escrito, o registro editado não é capaz de expressar a verdadeira intenção contida na situação que esse registro descreve....